11 março, 2007

Sem elas não é possível...

Aviso já, podia ser mas não é o que pensam...

Há dias li num jornal que na Califórnia uma grande quantidade de abelhas desaparece todos os anos sem deixar rasto.
Explico: a indústria americana de polinização, que assenta na regeneração, manutenção e venda dos "serviços" de colónias de abelhas, reduziu-se e decresceu em um quarto do seu valor durante os últimos vinte anos, devido ao "misterioso" desaparecimento de milhões dos produtivos insectos. Como consequência, o número de apicultores desceu também para metade. Pois é, a vida é dura na América!
Durante o longo inverno, as colónias de abelhas são tratadas com todos os cuidados, faz-se a limpeza e a desinfecção das colmeias, regenera-se o enxame através da selecção da abelha-rainha mais saudável e forte e finalmente transportam-se as colmeias para os locais onde há culturas agrícolas, sendo o serviço de polinização vendido aos agricultores e às grandes empresas agrícolas. Acabam num sítio, passam ao pomar seguinte e assim por diante até terminarem o trabalho, após o que regressam ao ponto de partida.

É um negócio que vale milhões e é bom para todos, desde as abelhas até ao consumidor que, desta forma, vê todos os anos serem repostos os níveis de legumes e fruta necessários à alimentação humana. Algures neste ciclo virtuoso estão os indispensáveis canais de distribuição, que levam os produtos da "horta" à mesa. E são muitos! Com custos fixos e quebras elevadas. Só uma quantidade astronómica da produção permite amortizar quer uns, quer outras.
E na ânsia de consumir/produzir mais, algures a cadeia natural apicultor-abelha-polinização-produto-venda-apicultor-abelha, sofre um colapso fatal!
Há muito que se fazem as maiores atrocidades na aceleração dos processos naturais, e a vantagem acrescida de mais produto a preços menores, dos quais teoricamente usufruimos todos, mesmo os menos favorecidos, está à vista que se paga e de que maneira.
Dada a situação, diz o citado artigo, têm sido feitas pesquisas no sentido de substituir as abelhas por exemplo, por polinização com "projectores gigantes de pólen" e também através de helicópteros que fazem rebentar "bombas de pólen" sobre as culturas. Ou ainda a crescente investigação sobre árvores "auto-compatíveis" que requerem menos abelhas para a polinização, ou a "invenção" de uma abelha azul (blue orchard bee) que não pica e tem maior resistência às temperaturas mais baixas. Tudo isto é possível na América, acreditem.
E é assim que em Fevereiro deste ano, diz o artigo, se reunem alguns apicultores na Flórida, preocupados com o facto de, ao abrir as colmeias como de costume, se terem dado conta que muitas abelhas já nem regressam a casa. Ninguém sabe onde estão, se morreram, se não conseguiram encontrar o caminho, ou o que lhes aconteceu...
Primeiro, para obter melhores resultados na regeneração das colmeias, utilizam-se químicos que afastam os ratos e pragas, mas também fazem reduzir o número das abelhas-mestras. Segundo parece a imunidade aos vírus reduziu-se e o tempo de vida das rainhas-mãe é hoje metade do que era há 20 anos, exigindo um esforço adicional às procriadoras que cada vez produzem menos obreiras.
Lá pelo meio o jornalista refere, sem grande alarde diga-se de passagem, especialistas que estudam um grupo de pesticidas utilizados nos Estados Unidos, mas banidos na UE, tentando confirmar se os mesmos serão os responsaveis pela incapacidade das abelhas encontrarem o caminho para casa.
É que, por muitos helicópteros ou bombardeamentos (vêm-me à memória as cenas do Apocalipse Now...) com o dito pólen - que entretanto devem ter acelaradamente cultivado para esse fim - nada é tão barato e eficiente como as abelhinhas do costume, aquelas que só pedem que a gente não interfira com elas.
Pergunto: e se as coisas continuarem neste pé, se as abelhas continuarem a não voltar a casa, o que é que vamos comer daqui as uns anos?

Em Tempo: veja este vídeo http://www.ted.com/talks/marla_spivak_why_bees_are_disappearing?utm_content=awesm-publisher&utm_medium=on.ted.com-static&awesm=on.ted.com_MarlaSpivak&utm_campaign=&utm_source=l.facebook.com